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Lembretes

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A programação do 4º SILIC está completa. Todos os convidados confirmados. É só conferir logo abaixo.

Seminário PIBIC



Na última semana, ocorreu o Seminário do Pibic. Dinalva e Arlete apresentaram as suas pesquisas no projeto "O regional como questão na literatura brasileira contemporânea". As fotos ficaram meio borradas - eeeeeeeeeeehhhh fotógrafas. Mas vale dar uma conferida!
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Algumas palavras


Difícil a primeira vez, sempre muito difícil, mas é literatura o motivo da paixão e a vontade de tornar fácil a tentativa, o estímulo.

Inefável, sentimento gerado pelo prazer da leitura, descobrir afinidades, coisa boa, terno recanto de lirismo e encantamento. Como leitora estou dentro. Talvez não saiba me expressar muito bem como escritora. De qualquer modo, vale tentar. Adoro coisas novas e se tantos vão participar, como imagino, minha escrita tatibitati não fará mal a ninguém. Rompida a barreira primeira, falarei sobre Caio Fernando Abreu, objeto de minha pesquisa no Gepoec. Será a maneira de homenagear o escritor que aprendi a amar. São lágrimas de luz suas palavras e belezas escondidas nas imagens entretecidas da sua obra que me enternecem. Menino triste.

Até logo.

imagem: cindy sherman, Untitled #96, 1981.
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Satolep, de Vitor Ramil

Meu caso de amor com Vitor Ramil é antigo. E é musical. Fã de carteirinha. De ir ao show, pedir autógrafo e tirar fotografia ao lado. Então, ler Satolep é uma extensão desse amor. É uma declaração deste amor. Este livro é também uma declaração de amor à cidade de Ramil, Pelotas. A história se faz a partir de fotografias da cidade antiga. Vemos os casarões antigos, as ruas, as praças... O preto e branco enche-nos de nostalgia. Mas a história não é nostálgica. Surpreendentemente, é quase um suspense, movido pelo fantástico, em que cada lance é decidido pelas fotografias. E mesmo com a instauração do fantástico, a narrativa é sóbria. Para o narrador, trata-se de não aceitar que a Satolep que ele vê seja ruínas um dia, enquanto que para o autor trata-se de fazer mover a memória - pessoal, insubstituível, fantasmagórica - para não se deixar vencer pela desaparição inevitável. Vê-se uma Satolep que não mais existe.

Assim, as histórias das personagens funcionam como uma forma de provar a existência do que não existe mais. O fotógrafo que retorna à cidade, renegando a casa do pai e se encontrando com personagens próprias e ilustres do Rio Grande do Sul, quer, no fundo, não se deixar vencer pelo esquecimento. Daí que a lógica das fotos não é óbvia. Elas são não "o que aconteceu", mas o que acontecerá, como se o ser humano, e só ele, pudesse refazer tijolo por tijolo aquilo que o tempo fez desmoronar. Daí a narração para interlocutores que só têm voz no último texto ser tão necessária (não vou dizer aqui que, virtualmente, somos nós leitores esses interlocutores, porque estou farta de textos que aludem ao leitor!) . É a narração que presentifica as fotos, que esvai a nostalgia, instalando o suspense.

Como está dito em algum lugar do livro: "o inesperado é a regra".
Queria ser aquela que fotografou a cidade da infância.
Por diversas vezes, pensei nisso.
E por diversas vezes adiei esperando ter a máquina perfeita.
Quando vou aprender que o tempo leva tudo?
E que não adianta esperar?
Queria eu escrever as memórias da minha cidade.

Seriam memórias totalmente opostas, é certo. Porque o frio, a bruma, a umidade tomam conta de Satolep, assim como o sol toma conta do Nordeste brasileiro, de onde vim. É a estética do frio de que fala Ramil e que, no livro, está na boca, por exemplo, do Cubano: "o frio geometriza as coisas"; um frio que não vai embora nem quando o calor começa. Pelotas como lugar frio é uma maneira de demarcá-la como diferente, apreensível apenas para aqueles que, como o personagem Selbor, a vivencia através de seus mitos, seus homens, de uma forma particularizada e poética.
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* Escrito por Milena
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A cidade ilhada, de Milton Hatoum

Demorei a saber o porquê do desencanto com Milton Hatoum. Um desencanto paulatino, como se o fato de ter "descoberto" esse escritor desde o seu primeiro livro me fizesse protelar o seu enterro simbólico. Simbólico, claro, pois como me lembrou um amigo, há tempos a crítica o elegeu um "grande escritor". E uma vez dado o título, dada a preguiça e o compadrismo da crítica tupiniquim, impossível destronar a majestade.

A cidade ilhada, seu último livro, a meu ver, não chega mesmo a ser mediano. Talvez a publicação seja por razões contratuais, afinal é a reunião de contos escritos em ocasiões diversas, o que me leva a pensar nos malefícios da profissionalização do escritor, mas não é por aí que quero me enveredar. Há livros maravilhosos escritos em situações adversas (lembrar de Dostoiévski é apenas o exemplo mais fácil). Não falta unidade no livro de Hatoum. Talvez o problema seja justamente este. Composto por 14 contos, o que vemos é um painel de personagens que transitam em ambientes bem demarcados; porém, enquanto a ambientação é primorosa, as personagens não têm densidade psicológica, beirando à caricatura: é um velho contador de histórias competindo com a televisão, um velho japonês que por ter dado um passeio de barco com uma professora quer que ela jogue as suas cinzas no rio Amazonas, é um pesquisador que no estrangeiro descobre uma carta de Euclides da Cunha - os enredos são frágeis, sem uma problematização que justifique as suas existências.

E reside aí a minha decepção: Hatoum escolheu a ambientação em vez da construção das personagens. Sua escolha recai sobre uma Manaus do passado, que, segundo seus enredos óbvios, deve ser historicizada para não cair no esquecimento. É uma nostalgia que tenta retratar uma aura que provavelmente nunca existiu. Quem leu Relato de um certo oriente ou Dois irmãos, seus dois primeiros livros, sente o uso forçado de algumas palavras que servem tão-somente para demarcar o ambiente: palavras do cotidiano deste outro lugar, desta outra gente - região típica à margem. Ou seja: ele trocou a literatura pela ideia de cultura e com isso fez uma péssima escolha. Já não me convence mais. 
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Há quem pense diferente. E o faça de maneira primorosa. Que bom.
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Escrito por Milena.
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Este Bernardo Carvalho


Ao ler o livro de crítica do escritor Bernardo Carvalho [que é romancista e escreveu, entre outros, Nove Noites, Mongólia, As inicias etc.], senti vontade de comentar sobre essa leitura. O livro chama-se O mundo fora dos eixos [crônicas, resenhas e ficções] e é uma reunião de seus textos publicados na Folha de São Paulo desde 1995.

Bernardo não é daqueles ensaístas brilhantes que ficamos embasbacados devido à linguagem, mas tem muita sacada bacana; sabido, sabido...! Senti um incômodo e um prazer intenso ao lê-lo. O incômodo e o prazer vieram da enorme variedade de seus interesses. Ele não se restringe aos livros, mas discorre também sobre cinema, artes plásticas, viagens. Sua maior preocupação – ou pode ter sido a seleção feita por Arthur Netrovski que faz pensar assim – é localizar o estatuto da arte na contemporaneidade. E nesse sentido é muito interessante, porque ele nem é daqueles integrados, que acreditam que tudo está nos eixos, mas também não é um apocalíptico, que acha que o “fora dos eixos” é uma desordem absoluta. Ele se interessa enormemente pela arte de seu tempo. Dá para sentir que escrevia os textos “pegando” o que lhe estava à mão naquele momento; e este estar à mão mostra uma pessoa irrequieta, atenta para o que acontece não apenas no Brasil, mas também no mundo. E como viaja este Bernardo: Japão, Nova Iorque, Paris, Acre... e por aí vai! Mordi-me de inveja.

Longe de ter o seu conhecimento e a sua sensibilidade, eu tenho que confessar que me identifiquei com ele, e por isso me incomodei – e ao mesmo tempo me redimi. Eu sempre penso que deveria ser mais focada; que deveria como professora de literatura brasileira me focar mais na história e na própria literatura brasileira. Por que diabos eu me interesso tanto por saber o que ainda não sei e quero assistir a tantos filmes, a tantas peças de teatro, ouvir tanta música? Tudo MUITO. Por que, neste momento, estou lendo Artaud e Bernardo, quando deveria ler mais Machado de Assis e Padre Antonio Vieira, ja que é sobre eles que tenho de dar aula? Por que, jesuscristinho, eu não me contento com um cadinho de cada coisa? Por que eu varo as madrugadas assistindo a Filme de amor, do Bressane e 10 on ten, de Kiarostami?

Eu não sei por que sou assim, mas confesso que me senti aliviada ao ler alguém que se parece comigo (repito: não estou me comparando, estou me identificando, porque ele é zilhões de vezes mais sabido do que eu). Agora sei que ele perde muito tempo com todas estas inutilidades: cinema, literatura, artes plásticas. Assim como eu também perco. Então, se ele é assim e ainda escreve aqueles romances fodidos de bons (eu reclamei de Nove Noites, mas é porque sou enjoada), acho que vou continuar sendo como eu sou. Afinal, embora me dê chicotadas de vez em quando rogando por mais foco e concentração, eu gosto muito de meus variados interesses :).
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* Publicado originalmente no meu blog. Essa versão contém algumas modificações.Ass.: Milena
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